"Os AVC e a doença de Alzheimer têm muitos factores de risco em comum e ocorrem frequentemente juntas", explicou-nos o cientista pelo telefone. Mas os médicos, acrescenta, nunca olham ao mesmo tempo para as duas doenças. "É precisamente o que nós fazemos. As duas doenças interagem e é essencial olhar para ambas em conjunto". Pelo seu trabalho nesta área, Vladimir Hachinski recebe hoje, na Universidade do Minho, em Braga, o Grande Prémio Bial de Medicina, num valor de 200 mil euros.

Hachinski destaca vários aspectos estatísticos relevantes: uma em cada três pessoas morre de AVC ou de Alzheimer ou das duas ao mesmo tempo. Vinte por cento dos doentes com AVC desenvolvem, passados três meses, uma demência que, nalguns casos, é semelhante à doença de Alzheimer. Por cada AVC diagnosticado há cinco "silenciosos", que passam despercebidos.

Ora, mesmo estes AVC silenciosos podem ter efeitos devastadores se a pessoa já tiver no cérebro os chamados "depósitos amilóides", acumulações de uma determinada proteína que acabam por ser tóxicos para os neurónios e que caracterizam um Alzheimer emergente. "Em caso de AVC, a presença de depósitos amilóides pode precipitar o desenvolvimento da doença da Alzheimer", afirma Hachinski. É como se, devido ao AVC, fosse ultrapassado um "ponto de não retorno" a partir do qual os danos que conduzem ao Alzheimer se tornam irreversíveis.

Os resultados de experiências em ratos, realizadas pela equipa de Hachinski, sugerem que isso é precisamente o que acontece. "Injectámos proteína amilóide no cérebro dos ratos e constatámos que quando esses animais sofriam um pequeno AVC, que normalmente não afectaria as suas capacidades de aprendizagem, a sua evolução era muito pior [do que a dos ratos que não tinham depósitos amilóides]. Apresentavam grandes deficiências de memória e de aprendizagem e o seu estado piorava, tal como acontece aos seres humanos", explica Hachinski.